sexta-feira, 5 de março de 2010

A música de esquerda durante o Regime Militar no Brasil


Durante os anos de 1964 a 1985 o Brasil sofreu com a censura ampla, geral e irrestrita imposta com os 17 Atos Institucionais editados pelo Regime Militar. Durante esses anos tornou-se rotina o autoritarismo, perseguições, prisões e imposição de censura prévia aos meios de comunicação.

A censura à produção cultural passou a perseguir todas as idéias que fossem contrárias aos interesses dos militares que detinham o poder. Até mesmo aquelas que não tinham conteúdo diretamente político. Com isso o cinema, o teatro, a imprensa, a literatura e a música foram atingidos em cheio.

Mesmo com a censura, acontece um crescimento e uma profissionalização do cenário artístico brasileiro. Nesse período, principalmente no fim dos anos 60 ao inicio dos anos 70, aconteceram grandes festivais que ganham força com suas músicas de protesto contra o Regime Militar, e com caráter nacionalista. Por outro lado os censores da ditadura, intensificadas ações que tomaram formas nada flexíveis com os artistas e divulgadores da cultura no país.

Os artistas eram vistos pelos militares como pessoas da esquerda que buscavam a desestabilização do Regime, com isso as chamadas músicas de protesto ganhavam força na sociedade essas músicas falavam daquilo que era proibido à nação.

Na maioria das vezes para driblar a censura os artistas usavam muitas metáforas em suas letras. Os estudantes que antes lutavam com a UNE - União Nacional dos Estudantes (Foto) passaram a ter na música a principal arma para o protesto.

Os militares queriam passar um boa imagem do Brasil para isso acontecer, eles banalizaram o sexo, as drogas e até mesmo o divorcio. Devido a isso a maioria das letras, eram vetadas por falarem em questões morais. Para preservar a imagem de nação brasileira com rígida moral cristã, a censura procurava a anti-metáfora da música de protesto, a música simples e direta do povo.

O cantor e compositor goiano Odair José, conhecido como o terror das empregadas, foi perseguido por versos que feriam a hipocrisia puritana, provando mais uma vez a forte influência igreja durante o regime. Teve sua música “A Pílula” censurada por pressão da Igreja Católica. Luis Ayrão, cantor de música brega, compôs no 13º aniversário do golpe “há 13 anos que te aturo e não agüento mais”, à qual deu o título de “Divórcio”. Usando esse nome censura acabou não percebendo a metáfora e a música pode ser gravada.

A grande maioria dos vetos foi justificada em nome da preservação dos valores tradicionais da família brasileira. Sob esta tópica circularam os mais variados tópicos, desde a defesa da religião católica até a proibição de assuntos em pauta na época, que foram considerados pela censura como atentatórios à tradição da família brasileira, como, por exemplo, referências ao uso de drogas, ao homossexualismo e à questão do divórcio, muito discutida na década de 1970.

Tropicalismo
O tropicalismo foi um movimento musical, que também atingiu outras esferas culturais (artes plásticas cinema, poesia), surgido no Brasil no final da década de 1960. O marco inicial foi o Festival de Música Popular realizado em 1967 pela TV Record (foto).

O tropicalismo, também conhecido como Tropicália, foi inovador ao misturar aspectos tradicionais da cultura nacional com inovações estéticas como, por exemplo, a pop art, rock, bossa nova, baião, samba, bolero, entre outros. As letras das músicas possuíam um tom poético, elaborando críticas sociais e abordando temas do cotidiano de uma forma inovadora e criativa.


Esse movimento transformou os gostos vigentes, não só em relação à música e à política, mas também à moral e ao comportamento, ao corpo, ao sexo e ao vestuário. A contracultura hippie foi assimilada, com a adoção da moda dos cabelos longos encaracolados e das roupas escandalosamente coloridas. O movimento manifestou-se principalmente na música, cujos maiores representantes foram Caetano Veloso, Torquato Neto, Gilberto Gil, Os Mutantes e Tom Zé; manifestações artísticas diversas, no cinema e no teatro brasileiro. Um dos maiores exemplos do movimento tropicalista foi uma das canções de Caetano Veloso, denominada exatamente de "Tropicália".

O Tropicalismo era visto por seus adversários como um movimento vago e sem comprometimento político, comum à época em que diversos artistas lançaram canções abertamente críticas à ditadura. De fato, os artistas tropicalistas faziam questão de ressaltar que não estavam interessados em promover através de suas músicas temáticas à problemática político-ideológica, acreditavam que a experiência estética vale por si mesma e ela própria já é um instrumento social revolucionário. Dado o caráter repressivo do período, a intelectualidade da época a proposta tropicalista era rejeitada, e seus representantes considerados alienados. Apenas décadas mais tarde, quando o movimento já havia se esvaziado, ele passou a ser efetivamente compreendido e deixou de ser tão criticado.

Foi um movimento que renovou radicalmente as letras de músicas, e os poetas. Exemplo disso foi Torquato Neto e Capinan, que compuseram com Gilberto Gil e Caetano Veloso trabalhos cuja complexidade e qualidade foram marcantes para diferentes gerações. Os diálogos com obras literárias como as de Oswald de Andrade ou dos poetas concretistas elevaram algumas composições tropicalistas ao status de poesia. Suas canções compunham um quadro crítico e complexo do País. O movimento, libertário por excelência, durou pouco mais de um ano e acabou reprimido pelo governo militar. Seu fim começou com a prisão de Gil e Caetano, em dezembro de 1968. A cultura do País, porém, já estava marcada para sempre pela descoberta da modernidade e dos trópicos.

Por:
ANDRESSA SALES, DANTIELLE GOMES, THIAGO ANDRADE e WESLLEN ORTIZ

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